A noite fora longa e fria. Nem os cobertores tirados do roupeiro antigo de mogno, tristemente encostado ao espelho que já não reflectia o brilho das manhãs de outrora, lhe aqueceram a alma e o corpo. A manhã tornara-se a obrigação rotineira de sair de dentro de si, da sua casa, do seu silêncio. A rua era o prolongamento dos seus dias. Uma fina camada de gelo cobria de branco a cidade, tornando os seus olhos ainda mais claros e vazios de cinzento azulado. Escondendo o seu frágil corpo ainda jovem e ainda e sempre virgem de sonhos de paixões inventadas, no eterno casaco de fazenda, com que cobria os desejos por descobrir, aventurou-se na aventura do dia… Frio… e ela desejava tanto a decomposição deste branco de gelo nas cores que nunca tinha visto, mas que sabia existirem todas no arco íris sobre o qual já lera notícias. Um leve cheiro a café, vindo de uma esquina igual a todas as outras, com desejos de chocolate quente, percorreu a nossa nova personagem. Sabia que teria de andar um pouco mais até chegar à estação de metro que todos os dias a engolia no seu poder feito de cimento, de ruído de máquinas assustadoras e de esculturas do mestre Cutileiro que lhe povoavam os sonhos. Sabia que seria devorada uma vez mais pela multidão anónima das suas manhãs de todos os dias. Mas sentiu o aroma ainda mais forte… Nunca aqui tinha estado antes, este sentir de ter de parar. Nunca tinha sentido antes esta vontade de descobrir o que lhe diria este aroma encantado que a chamava docemente no calor que adivinhava. Olhou em volta. Nunca ali vira o café. Teria estado sempre ali? Imaginou que trocara acidentalmente de caminho rotineiro, imaginou que se perdera na sua cidade. Sua? (ou seria ela apenas mais uma presa da Cidade?) Olhou com mais atenção. Viu um brilho… Sentiu o aroma a café, a bolos, a chocolate, que lhe desenhou um sorriso nos olhos. A boca ficará para mais tarde… Quando a paixão sonhada nesta estória se tornar um suspiro derretido em açúcar, partilhado à mesa de um café de esquina. Viu a tabuleta. Palavras mágicas, desconhecidas e tão iguais a si… Ladrões de Sonhos. Soube que estava prestes a chegar. Soube que era a sua casa. Soube que tinha chegado ao seu destino… Entrou…
1 comentário:
Fui à Arca. Tinha lá a personagem do teu desenho.
A noite fora longa e fria. Nem os cobertores tirados do roupeiro antigo de mogno, tristemente encostado ao espelho que já não reflectia o brilho das manhãs de outrora,
lhe aqueceram a alma e o corpo.
A manhã tornara-se a obrigação rotineira de sair de dentro de si, da sua casa, do seu silêncio.
A rua era o prolongamento dos seus dias. Uma fina camada de gelo cobria de branco a cidade, tornando os seus olhos ainda mais claros e vazios de cinzento azulado.
Escondendo o seu frágil corpo ainda jovem e ainda e sempre virgem de sonhos de paixões inventadas, no eterno casaco de fazenda, com que cobria os desejos por descobrir, aventurou-se na aventura do dia…
Frio… e ela desejava tanto a decomposição deste branco de gelo nas cores que nunca tinha visto, mas que sabia existirem todas no arco íris sobre o qual já lera notícias.
Um leve cheiro a café, vindo de uma esquina igual a todas as outras, com desejos de chocolate quente, percorreu a nossa nova personagem.
Sabia que teria de andar um pouco mais até chegar à estação de metro que todos os dias a engolia no seu poder feito de cimento, de ruído de máquinas assustadoras e de esculturas do mestre Cutileiro que lhe povoavam os sonhos. Sabia que seria devorada uma vez mais pela multidão anónima das suas manhãs de todos os dias.
Mas sentiu o aroma ainda mais forte… Nunca aqui tinha estado antes, este sentir de ter de parar. Nunca tinha sentido antes esta vontade de descobrir o que lhe diria este aroma encantado que a chamava docemente no calor que adivinhava.
Olhou em volta. Nunca ali vira o café. Teria estado sempre ali? Imaginou que trocara acidentalmente de caminho rotineiro, imaginou que se perdera na sua cidade. Sua? (ou seria ela apenas mais uma presa da Cidade?)
Olhou com mais atenção. Viu um brilho… Sentiu o aroma a café, a bolos, a chocolate, que lhe desenhou um sorriso nos olhos. A boca ficará para mais tarde… Quando a paixão sonhada nesta estória se tornar um suspiro derretido em açúcar, partilhado à mesa de um café de esquina.
Viu a tabuleta. Palavras mágicas, desconhecidas e tão iguais a si…
Ladrões de Sonhos. Soube que estava prestes a chegar. Soube que era a sua casa. Soube que tinha chegado ao seu destino…
Entrou…
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