segunda-feira, fevereiro 21, 2005


desesperos sem lágrimas em outro esboço inacabado, porque dolorido ( colorido?), ( copiado?)

domingo, dezembro 19, 2004


Chuva num campo de papoilas Posted by Hello


Estas linhas intersectaram-se com palavras,por isso aqui fica o passeio do gato escondido,num dia de chuva que deu cores a papoilas no olhar de cada um.

"Está frio, mas não consigo deixar de caminhar… Esfrego as mãos tentando afastar o gelo que me entorpece, mas é em vão… Mais vale caminhar sem parar.
Bater os pés com força no chão – tum, tum, tum – como se fosse soldado de filme de guerra..
Não sei para onde vou. Porque caminho. Só sei que não resisti à força que me impele, desde que abri os olhos logo pela manhã.
Não sinto fome, nem sede. Nem desejo, nem esperança. Apenas uma dôr fininha me trespassa o corpo.
Esfrego o nariz e decido sentar-me. Mesmo no chão. Repassado de mil passos perdidos. Mais gelado que o vento que me assobia, brincalhão…
Sinto no ar cheiros que não identifico, que me põem mais tonta. Esfrego os olhos. E penso…
Relembro as tuas palavras… A sedução da amizade pura. O pertencer ao outro sem fingimentos, pela transparência de sentimentos e sensações.. A clareza de dizeres.
Digo eu. Digo… Em voz alta, que apenas o vento me ouve. Como irmãos. De alma pegada. Digo eu. Esta envolvência estranha de quem se conhece e nunca se viu…
De quem se adivinha. Se gosta e não gosta ao correr das palavras, das insistências e das ausências adivinhadas.. Bolas, penso em ti. Não queria pensar em ti. Assim, sempre. A propósito de tudo e de nada, como se fizesses parte de mim. Do eu que descobri há pouco, tornando longínqua a existência que te precedeu.
Olho para cima. Vai começar a chover, e eu aqui.
Pensando em ti, e naqueles que flutuam no nosso universo. Irreal. Intenso. Belo.
A chuva começou a cair, e a frio amainou. Em respeito à dança das nuvens que se riem de mim. Rio-me com elas. E riso cristalino e puro como o de uma criança. A tua lembrança deu-me força, e levanto-me. Não sei quanto caminho me espera ainda.
Sacudo as roupas e o frio, e avanço sem hesitar. Tum, tum, tum… A cada batida do coração. Começo a correr. Dançando em cada passo, sentindo no rosto as gotas geladas do céu!
E de repente, ao virar de uma curva inesperada e sinuosa, estaco o passo e abro os olhos de espanto. Á minha frente, extenso até perder de vista, ondulante ao sabor do vento numa grata saudação à chuva caída, encontro um campo soberbo de papoilas!
Rubras. Doces. Frágeis e fortalecidas pelo conjunto. Pela mancha de côr que as torna invencíveis, longe da perenidade de flor simples e singela.
E ali me quedo. Em oração murmurada à beleza. À intensidade. À honestidade. Ao galope da emoção sentida e partilhada.
Já não sinto o frio. Nem o molhado. Nem a perda da busca.
Encontrei o que procurava."


Palavras roubadas, agradecidas com um enorme beijo